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  • Foto do escritorArtemídia

Depreciação da arte no Brasil resulta em exportação de profissionais promissores

O engajamento da sociedade, o incentivo do governo e de empresas privadas contrastam a diferença da importância dada às artes plásticas no Brasil e no exterior.

Um incêndio devastou a emblemática Catedral de Notre-Dame, em Paris e em menos de vinte e quatro horas, as doações para a restauração já contabilizavam R$2,6 bilhões. Museu Nacional – o mais antigo do Brasil – também foi destruído pelo fogo, passados sete meses do desastre, as doações para reconstrução chegam aos míseros R$ 1,1 milhão.


Muito se fala sobre a falta de familiaridade do povo brasileiro para com as artes plásticas e da desvalorização da cultura no Brasil. O cenário acima demonstra justamente isso. A gritante diferença entre as doações para a reconstrução dos dois centros culturais é assustadora, e o que difere um do outro é apenas a localização.


Quadros, esculturas, ou qualquer peça que seja feita com papel, tinta, gesso, argila, madeira ou metais – o que caracteriza as artes plásticas – parece não despertar muito o interesse do público brasileiro.


Talvez por questões econômicas ou até mesmo culturais, realmente esse estilo de arte é pouco apreciado no Brasil e isso faz que tenha poucos artistas reconhecidos em atividade no país. Possivelmente, por esse motivo, muitas pessoas que optam em ganhar vida fazendo arte, na primeira oportunidade decidem ir para o exterior – de preferência para a Europa –, para países onde a arte é mais enraizada e é inserida no cotidiano das pessoas desde a infância.


A artista plástica Lu Mourelle, nascida em Campinas, e que hoje, vive da arte em Portugal, é um bom exemplo dessa imigração profissional. Segundo ela, o mercado é muito mais receptivo e a relação dos europeus com a cultura é bem diferente da dos brasileiros.


Assim que entrou no ramo da arte, a paulista percebeu que no Brasil, as chances de ter reconhecimento e viver exclusivamente dos quadros eram pequenas. Foi então que decidiu se mudar para Europa e dar continuidade à sua carreira artística. Lu lamenta que no Brasil a profissão não é levada a sério. “Sempre que eu falava que era artista plástica, me respondiam: Ah, você é pintora? Que bacana! Mas trabalha em quê?” (Leia a entrevista completa da artista).

. Não se aprecia o que não se conhece


No Brasil, as pessoas têm tendências culturais diferentes, a grande massa não é incentivada a visitar museus de obras de artes ou acompanhar mostra de grandes artistas, muitos crescem e se tornam adultos sem nunca ter ido a um centro cultural.


De acordo com pesquisa realizada em abril deste ano pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, quase um terço da população da capital paulista, 28% mais precisamente, nunca frequentou qualquer centro de cultura, o que corresponde a 2,7 milhões de paulistanos.


Ao trazer essa pesquisa para o cenário nacional, os dados ficam ainda mais alarmantes. Segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2010, cerca de 70% da população brasileira nunca foi a museus ou a centros culturais.


Os motivos que justificam esses números podem estar tanto na falta de hábito como na questão econômica. Eventos ligados à arte, como mostra de artistas conceituados, custam caro e sem contar que, geralmente, os museus ficam concentrados nos centros das grandes cidades, o que afasta ainda mais a população que vive nas periferias.



Para a Lu Mourelle, a desvalorização não só da arte, mas da cultura no geral, se dá, principalmente, pela falta de incentivo das autoridades. “No Brasil, os políticos não enxergam a cultura como algo importante e essencial, quando é preciso cortar gastos, essa área é a primeira a ser eliminada”, salientou a artista fazendo referência a extinção do Ministério da Cultura que desde o início do ano passou a ser tratado como uma secretaria submetida ao Ministério da Cidadania.


Com exceção de alguns centros culturais como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) – instituições que em dias estratégicos disponibilizam entrada social e nos demais vendem ingressos com valores um pouco mais acessíveis –, outros estabelecimentos não têm essa mesma iniciativa e mesmo quando o fazem, os preços fogem da realidade da classe trabalhadora que prefere gastar o valor do ingresso com ‘algo mais importante’.


. Europa, íntima relação com a arte


Pelo fato de ter sido colonizadora de quase todo o mundo, é quase impossível fugir das referências europeias seja na arte ou em qualquer outro ramo. A Europa foi e continua sendo o palco de grandes acontecimentos e de muitas realizações humanas e talvez isso explique a proximidade do continente com a cultura e pincipalmente com a arte.


Para a artista plástica Thelma Ferraz, que hoje mora no interior de São Paulo e trabalha na área artística há 25 anos, realmente, a Europa é mais viável para a comercialização deste ramo. De acordo com a artista, isso se deve aos altos níveis de educação do continente europeu. “Quanto mais um país investe em educação e em cultura, mais viável ele é para os profissionais de tais áreas, lá realmente eles são mais valorizados”, ressaltou Thelma que hoje comercializa seus quadros para países como Alemanha, Estados Unidos, México e Argentina.



Muitos artistas renomados, que são referência até hoje no mundo, nasceram na Europa, tais como: Leonardo Da Vinci, nascido na Itália; Salvador Dali, espanhol; René Magritte, belga e muitos outros.


Mas o Brasil não é diferente nessa questão. Em solo nacional, também nasceram grandes nomes das artes plásticas, como: Tarsila do Amaral e Candido Portinari, nascidos em São Paulo; Di Cavalcante, carioca; Vicente do Rego Monteiro, pernambucano e tantos outros. Nomes estes, que há muitos anos, estruturam e embasam a arte brasileira, espera-se que os artistas que vivem de arte hoje, possam encontrar no Brasil, o devido respeito e respaldo para com esta profissão.


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